Demorei mais que o planejado pra escrever e poderia dizer que a razão eram muitos projetos em andamento, cansada e com pratos demais pra manter no ar.. não seria mentira, mas a verdade é que eu estava com um tanto de medo.
A última carta terminou assim:
“(…) comecei a perceber com clareza que, apesar de grata por ele (nome de perfil) me acompanhar nesse caminho, eu sou maior que um username criado pelo medo de aparecer e ser vista. E me retirar dele ou renovar esse espaço, de certa maneira, pode ser o caminho pra liberdade que eu tanto desejo - ainda mais agora.”
Querido Criativo é o nome que usei pra me esconder, me proteger. Com o tempo ele se tornou vocativo carinhoso, o primeiro nome que alguém lembra quando me procura no Instagram. Ele já não é uma redoma, mas uma armadura acolchoada.
Nesses dias desde a última carta repensei se as mudanças que gritam aqui de dentro (da armadura) aconteceriam mesmo.
Em meio a isso, decidi pintar a tela pro leilão (que ainda vai acontecer) em prol do tratamento do Thiago Cerqueira. Talvez você a tenha visto no instagram, aliás.
Durante a pintura da obra eu chorei. Chorei muito. Numa medida que me fez pensar sobre quais eram as razões, por dias, literalmente. Pensei na causa, no prazo apertado, a adrenalina, a expectativa… Senti que era tudo isso mas era mais.
Nesse trabalho eu acessei uma Fabiana que eu não via há anos.
Quando era adolescente eu era obcecada em pintar/desenhar tudo que se ligasse à botânica, especialmente flores. Mulheres também eram minha inspiração. Mulheres icônicas com flores que se “fundiam”, como se nossa natureza feminina fosse exatamente essa conexão. Eu passava dias desenhando. E quando comecei a compartilhar na internet havia esse desejo de retomar a arte que faz sentido pra mim.
Foi isso!
Aquela tela foi como um despejar de vontades: pintar em tela (o que já faço mas não posto), pintura acrílica com um toque impressionista (vide Monet, meu atual pintor preferido), uma escolha de tema cem por cento minha… isso me fez chorar. A arte ainda está aqui na mesma intensidade de antes, está viva e abundante.
Trabalhar com arte personalizada (e eu me sinto honrada e grata num nível que não consigo explicar), carrega o lado incrível de contar histórias de outros com seus traços mas também o risco de esquecer da arte que conta SUA história, que carrega os temas que alimentam SUA existência. Não conseguir separar o que você cria pra se sustentar e o que sustenta o que você cria é perigoso e a longo prazo insustentável.
Essa separação e organização dos caminhos é totalmente responsabilidade do artista. A arte é um meio, uma ferramenta, expressão e não um problema. Nunca.
Por isso, preciso honrar não apenas as histórias que me procuram, mas as minhas.
Quando falei que o Querido Criativo como você conhece iria acabar, não era de todo marketing pra chamar atenção… As primeiras mudanças rumo a honrar a história que eu carrego e construo, não me esconder na armadura confortável e ter liberdade pra me apresentar com o nome que meus pais escolheram, com o sobrenome dos meus antepassados, SERÃO:
o username de todas as minhas redes vai mudar, dessa vez com meu nome;
apesar de continuar com projetos comissionados - porque esse é meu trabalho principal e eu realmente sou feliz fazendo isso -, vocês verão muito mais artes autorais, projetos e conteúdos que não são só murais ou só trabalho. Eu quero falar sobre arte, história, organização, sobre livros e do café que a gente ama;
ser artista é o que sou, mas o que alimenta a alma que me sustenta? Quero inspirar pessoas artistas ou não, a ver beleza em existir, cultivar hábitos e rotinas reais e de presença. Quero me conectar como pessoa, não como uma marca;
aliás, o queridocriativo é uma casa bonita demais pra abandonar, então ele será “reformado” (vou deixar um link na bio do instagram em breve). Ele não será nosso lugar principal no “mundo”, mas abrigará desejos que carrego há anos e que você poderá carregar também… (eu sei, ficou misterioso, mas aos poucos vou contar mais aqui);
essas mudanças vão ser compartilhadas em algumas semanas com os seguidores do perfil, por enquanto é nosso segredo!
Parece uma coisa pequena, talvez, mas é uma mudança tão grande! Gera medo mudar um vocativo, alterar o nome com o qual assinei trabalhos por quase 10 anos (!), mostrar que quem faz sou eu… Os detalhes dessa jornada começa já nos bastidores, em breve vou organizar e postar os conteúdos pro público e os passos mais largos vou dividindo aqui antes.. aliás não só o conteúdo e os serviços mudarão, mas quem me vê também acaba mudando um pouco. Espero poder contar com você nesse caminho que estamos desbravando a partir de agora… O que acha de continuar comigo?
FRESQUINHAS
Vocês sabem que sou formada em Ciências Contábeis, né? Resolvi fazer uma segunda graduação, dessa vez em Artes Visuais e seguir pelo caminho acadêmico já que eu AMO estudar tanto quanto amo café. E isso é muito!!!
Pra minha alegria, descobri que arte envolve mais cálculos do que eu pensava! Sigo apaixonada, cada dia mais *-* Vem aí uma doutora em Artes, sim! E esse é claramente um sinal pra que você realize seus sonhos mesmo se tiver +30, como eu!
Até a próxima,
Com carinho, Fabi!
Oi Fabi, que bom acompanhar de perto essa mudança, vi esse perfil nascer e você levar cada vez mais longe sua arte (e que arte!). Uma mudança externa só acontece quando algo dentro de nós já mudou, e o fato de colocar seu nome e sobrenome só revela que vem de um processo de olhar pra si e sua história (e isso por si só, é lindo). Já estou ansiosa pelos próximos passos, sigo aqui na torcida por você!
Olá Fabi, agora pela manhã pude ler sua carta de despedida. A despedida da sua versão antiga, das amarras e armaduras, do que é insustentável. E poder trazer de volta o que te faz brilhar os olhos. Fico muito feliz em saber da nova mudança, dos novos planos e estudos. Poder acompanhar uma colega do mundo artístico me inspira também a mostrar esse lado mais sensível e belo 🖋️✨